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domingo, 25 de março de 2007

Canções para Camila

Antes de ir ser um dos piores alunos do Colégio Santo Agostinho, estudei em uma escola menor tradicional do bairro onde moro. Se no primeiro era aquela loucura de seis turmas com quarenta alunos organizados em ordem alfabética, o segundo só tinha uma turma com vinte e poucas crianças por turno e olhe lá. E quase não havia rotatividade: muitos dos colegas de jardim de infância acabaram se formando do ginásio comigo.

Era o caso de Camila. Não lembro exatamente qual a idade que tinha quando começamos a estudar juntos, mas foi um caso de amor a primeira vista. E que ia se renovando (apesar de um intervalo no início da adolescência, onde tive uma queda por uma menina do curso de inglês que até hoje encontro vez por outra).

Fast forward para último ano do ginásio, 15 invernos de idade. Eu já deixava o cabelo crescer, meu metabolismo lento e alimentação errada me deixavam maior e os hormônios entravam em ebulição. Camila, pelo contrário, ficava cada vez mais linda.

Muitas vezes formamos dupla de carteira e me lembro bem de uma vez que passei mais de um tempo de aula acariciando sua mão sobre o tampão da mesa. Um pequeno bucha, claro. Camila só queria saber dos garotos um ou dois anos mais velhos, com músculos e cara de cafajeste.

Os meus amigos todos sabiam, todo mundo sabia. Um deles, um pequeno filho da puta, me convencia a ligar e me declarar por telefone, na frente do grupinho. Ele discava, me dava o aparelho e eu não tinha coragem de falar nada e desligava, todo encabulado e humilhado.

Se não tinha coragem de falar, tinha para escrever. Escrevi muitas cartas, as jogava fora, rasgava, re-escrevia, passava a limpo. E escrevia músicas para ela, mesmo sem saber tocar violão ainda. Em inglês claro, como todo bom adolescente. Bryan Adams se orgulharia do conteúdo de cada uma delas. De vez em quando arrumava uma maneira de voltar correndo do recreio ou me esgueirar num churrasco da turma e, num arroubo de coragem, colocava uma dessas cartinhas dentro da mochila dela. E voltava triunfante, me achando o grande homem que se declarou para a mulher amada.

O mesmo pequeno desgraçado do telefone, não sei se por maldade ou achando que estaria ajudando, me fez passar pela experiência mais traumatizante da adolescência: a rejeição em público. Todo mundo conhece aquela brincadeira que só gera problemas, a famosa "Verdade ou Consequência". Pois então, festa em play, vinte pessoas na roda e giram o tênis, o destino faz o resto. Ele pergunta se um dia ela iria me dar uma chance e antes dela responder (por mais que eu tenha protestado contra a pergunta), me levanto e vou pra longe pra não ter que ouvir o que eu já sabia. Todo mundo sabia.

Dez minutos depois, ela me procura para falar como gosta de mim como amigo e que não tem nada a ver eu gostar dela assim e todas aquelas baboseiras que ninguém quer ouvir quando se é rejeitado, aquela ladainha que só te faz se sentir pior.

Mas no mesmo ano, eu tive minha pequena vitória. Em outra festa, duas outras amigas vieram me contar que já tinham lido minhas cartas e músicas, que eram lindas e tudo mais. Camila as guardava numa gaveta e mostrava para elas. Uma delas, olhando hoje em dia, deixou meio indicado que iria adorar receber uma delas. Mas o bucha aqui não entendeu.

Se ela ainda as guarda, sei lá. Mas aposto que os outros lá nunca escreveram um parágrafo. Se alguém conhecer Camila, diga que agora ela ganhou um post de blog para juntar aos troféus da adolescência.

Agora, peço perdão e me ausento, vou ali me apaixonar por alguém mais real.

So now were passing strangers, at single tables
Still trying to get over, still trying to write love songs for passing strangers
All those passing strangers
Marillion, Blind Curve b) Passing Strangers

2 comentários:

Anônimo disse...

eu queria viver meus tempos de colegio de novo. escreveria as cartas que nunca escrevi.

Pedro Fraga disse...

Tela Quente apresenta: "Desejo de ser bucha?". To brincando! :)

Mas foi bom. Me peguei pensando, não lembro do que eu escrevia. Ainda bem, acho que eu desenvolveria diabetes.

Aí depois carta virou email e a moda nerd de conhecer meninas através das teclas.

Net boy, net girl
Send your signal 'round the world
Let your fingers walk and talk
And set you free